|
CAPÍTULO 02
APRESENTAÇÃO PODOLATRA
Era um lugar fétido, mofado, com palhas secas de feno amontoadas desajeitadamente pelo chão de pedras frias e sujas, com lodo. Tão somente uma porta de aço maciça, com uma pequeníssima portinhola fechada. A tênue luz vinha de um orifício no alto da parede também mofada. Na penumbra poder-se-ia vislumbrar no máximo algum vulto que por um acaso conseguisse ficar alguns minutos naquele forno. E tinham...
Mayra, uma loirinha adolescente no auge de seus quinze anos, acordou com um sobressalto. “Onde estava? O que era aquilo? Por que não conseguia mexer os braços?”. Falou alguma coisa, mas não ouviu a sua voz. Lentamente foi percebendo aquela sensação sufocante de alguma coisa tampando sua boca. Gritou! Não se ouviu. Gritou, novamente, agora pela dor em seus tornozelos. Percebeu horrorizada que eles estavam rodeados por alguma coisa muito dura e pesada. Bem mais desperta percebeu que seu punho direito estava atado ao seu antebraço esquerdo, perto do cotovelo; o mesmo acontecia com seu pulso esquerdo, ligado ao antebraço direito. Forçou, mas percebeu ser uma larga faixa o que os prendia. Gritou mais alto ainda.
Tentou enxergar no escuro. Percebeu dois vultos, um encostado à sua frente, em pé. Não conseguiu identificar se era um homem ou uma mulher; à esquerda, sentado igual a ela, uma outra disforme sombra. Gritou, chamando a atenção dos outros. Mas se nem ela mesmo se ouvia...
E o pior é que nem se lembrava de como chegara ali. Havia sido raptada? Mas, como? Quando? Por quem e por que? Suava frio e a cântaros. O horror, o verdadeiro pavor, foi tomando conta de seu ser. Começou a chorar. Desesperadamente gritou, e novamente não se ouviu. Mexeu-se toda, nova dor nos tornozelos e também nas costas. Começou a sentir sede. Depois o estômago doeu. Gritou... Gritou... Gritou! Com o esforço soltou gazes fétidos. Veio a vontade de urinar e defecar. Não se lembrava da última vez que havia defecado e urinado. Agora sentia as dores naturais dos intestinos e da bexiga.
Barulho na porta. Alguém estava enfiando uma barulhenta chave na fechadura. A porta rangeu, enferrujada e a luz se fez. Ao olhar para a porta ficou completamente cega. Doeram-lhe os olhos. Apertou-os muito forte. Escutou passos. Não era somente uma pessoa. Gritou, mexeu-se. Ouviu risos soturnos. Ficou mais apavorada ainda, se isso fosse possível.
Esta é Mayra, quinze ou dezesseis anos; aquela é Selma, uns 23 anos, já furada e aquele é Milton, uns 16 anos, virgem completamente.
Não entendi a presença do jovem.
O senhor verá o que preparamos para esta reunião. Temos a certeza de que o senhor irá adorar.
Tudo bem! Não estou duvidando! E as meninas são meio magrinhas, não?
Mas todas as duas tem as coisas de que o senhor mais gosta. Posso lhe mostrar?
Juju chegou até perto de Mayra.
- Putinha, comporte-se muito bem, viu? Se quiser ver papai e mamãe outra vez, não faça nenhuma burrada.
Mayra empalideceu mais ainda ao ouvir estas palavras. Sentiu a mão enorme do homem que lhe falava pegar-lhe a ponta do tênis de seu pé direito e tirá-lo puxando-o com a outra mão. Fez a mesma coisa com o esquerdo. “O senhor vai ver agora.” – ouviu o homem dizer ao mesmo tempo que sentia sua meia esquerda ser lentamente puxada descobrindo o seu pé. O mesmo processo, com o esquerdo. Viu-se nua.
Que tal patrão?
Realmente, vocês sabem como me agradar.
Mayra percebeu um ar mais quente passeando pelo seu pé. Era evidente que alguém aproximara o nariz e estava cheirando seus pés. Ficou completamente desconcertada. Mais ainda ao sentir o molhado da saliva de uma boca que prendia seu dedão do pé direito. Tentou retirar o pé daquela boca. Urrou ao sentir a dor em seus tornozelos. Agora era a língua que passeava pelos dois pés, lambendo-os na frente, entre os dedos, abocanhando cada um deles e, o mais irritante, pelas solas dos pés. Teve que se mexer toda ao sentir que mordiam os dedos ao mesmo tempo em que os sugavam. As mordidas eram, ora muito fortes e doloridas, ora apenas com os dentes roçando. Isto, para ela, durou uma eternidade.
Que delícia! Que pé maravilhoso!
Nós a escolhemos justamente por este motivo.
Vamos levá-la lá para cima. Quero banhá-la de cima em baixo com minha língua. Vamos levá-la logo.
Calma patrão! Venha conhecer a outra.
Ela já acordou também?
Vamos acordá-la agora. Parece meio bravinha, portanto deixe-nos fazer isto.
Não precisa, pode deixar comigo mesmo. Onde está aquele vidrinho com os sais aromáticos.
Um cheiro acre e forte penetrou pelas narinas de Selma. Tentou dar um tapa naquele troço em seu nariz. Não conseguiu. Acordou de vez. Muito assustada, percebeu que seus punhos estavam presos aos braços. Quis levantar e não o conseguiu. Machucava-lhe a corda que apertava sua barriga contra o chão. Falou um palavrão, mas não ouviu nada. Constatou que estava amordaçada. Ficou completamente desnorteada e apavorada. Só aí percebeu que havia alguém perto dela. A respiração ofegante assim denunciava. Confirmou-se tudo ao ouvir:
Então boneca! Acordou?
Outra voz
Olha aqui sua puta! Se você repetir aquilo que nos aprontou quando lhe pegamos, você vai sofrer mais que burro empacador. Nós vamos te dar um cacete que você nunca viu igual.
Deixa ela! Garanto que ela não vai fazer nada. Menina que tem um pezinho tão lindo igual a estes não vai querer ficar sem as unhas. Já pensou! Você querer arrancar com um alicate estas unhas lindas... Se tá doido?
Selma teve, não via por quem, seus pés lambidos, seus dedos sugados, um a um, por muito tempo. Não ousou mexer sequer um músculo. Percebia a baba do homem lambuzando a planta, a sola e os dedos. Ela sentia repugnância. Mas diante da promessa feita não aluía um só músculo. Pequenos arrancos aconteceram quando a dor das mordias se tornavam insuportáveis. Mesmo assim fazia de tudo para agüentar aquele nojento banho de cuspe. Mais nojento ainda quando ouvia o homem balbuciar “Que cheirinho bom! Que caldinho gostoso minha saliva e o suor dela estão fabricando!”.
Mayra se viu livre daquilo que lhe prendia os tornozelos. Quis dobrar as doloridas pernas. Duas enormes mãos passaram por suas axilas, fecharam-se em cima de seus pequenos seios e levantarem-na. Em pé, balançou desequilibrada. As mãos apertaram-na mais ainda provocando uma dor terrível em seus peitos. Depois, outras mãos enlaçaram seus joelhos e os levantaram. Estava sendo carregada e certamente para fora daquele ambiente escuro em que estava. Percebeu a claridade ofuscante através da venda que lhe haviam colocado minutos antes.
Selma continuava a ser sugada. O homem já não se contentava apenas com os pés. Começou a passear pelas suas pernas, por sobre as calças compridas jeans que vestia. Ele saia dos pés e vinha até a sua vagina, enfiava o nariz tentando furar o pano da calça. Forçava, forçava e depois fazia o trajeto de volta até engolir e sugar um de seus dedos.
De repente o homem saiu. Levantou-se. Ela ficara livre da corda que a prendia ao cimento duro. A venda que lhe colocaram nos olhos quando começou seu “banho de língua” não a impediu de também sentir a claridade forte denunciando que estava sendo literalmente carregada para fora do cômodo escuro e fétido onde acordara. Para onde a estariam levando? Um pavor inusitado apossou-se dela, quase desmaiou.